Do efó riro da Nigéria ao efó afro-baiano

As chamadas comidas verdes que fizeram parte da diversidade de receitas da diáspora da África Ocidental para o Brasil, possibilitaram cardápios semelhantes nas duas costas do Atlântico. Estas comidas do cotidiano mostram um total aproveitamento dos variados tipos folhas, que combinados aos nossos processos culinários passam a evidenciar um sentimento afrodescendente dominante, que é marcado também pelo uso do dendê.

Assim é o caso do efó, uma comida que faz parte da tradição afro-baiana, e que revela na sua receita o uso de diferentes tipos de folhas e insumos com identidade africana, como o peixe salgado e defumado. Atualmente nos restaurantes, o efó é oferecido sem peixe, sendo apenas um guisado de folhas para acompanhar o arroz branco e a farofa de dendê.

Entretanto, as bases do nosso efó estão na cozinha tradicional nigeriana. Nossas receitas assemelham-se em técnica culinária, e mostram um entendimento de que se pode usar desde a folha de mostarda até a folha de couve, cortada em tirinhas, como uma das possibilidades para se fazer um efó.

As receitas nigerianas nomeiam distintas opções de efó. Por exemplo, o efó riro é interpretado como uma sopa vegetal feita com a mistura de vários tipos de folhas. Certamente a partir das opções de folhas da época. As folhas misturadas são cozidas, temperadas com pimentas frescas e cebolas; e, acrescentam-se peixe seco e peixe salgado e defumado, entre outros ingredientes. Esta sopa verde é servida sobre um tipo de massa, que pode ser feita de inhame ou de semolina.

Há uma variação desta receita que é feita com “efurim”, um tipo de espinafre africano. Nesta receita, também se acrescenta feijão; partes de carne de porco e de gado bovino, como as usadas na nossa “dobradinha”; camarões secos e salgados, cubos de caldo de galinha; além de peixe e temperos; todos estes ingredientes são celebrados no azeite de dendê.

Ainda, há o efó soko, uma receita feita a partir de um tipo de espinafre da região de Lagos (Nigéria), complementada com diferentes tipos de carnes frescas, e temperada como as demais receitas.

Dessa maneira, a partir da denominação geral de efó, tem-se outras interpretações desta receita na Nigéria como: afang soup, okassi soup, ukasi soup.

Por tudo isso, o efó na Bahia passa a ser feito com o uso das seguintes folhas: mostarda, quelê, erva-de-santa-maria, capeba, alumam, mastruço, sabugueiro, bredo de Santo Antônio, bertalha, taioba, língua-de-vaca; que são utilizadas nas receitas separadamente ou misturadas. Contudo, há uma tendência na utilização do espinafre, certamente por uma questão da oferta nas feiras e mercados.

Assim, há um entendimento visual e de sabor que dialoga com os imaginários do efó e do caruru baiano, da couve mineira, do cuxá maranhense, do bredo ao coco pernambucano; e das interpretações da maniçoba baiana e da paraense.

E nesse encontro de tanta diversidade de tipos de comidas verdes, o efó afro-baiano mostra uma forte relação com o que veio do além-Atlântico.

Por isso nos restaurantes, nas feiras e nos mercados, diz a tradição que é comum perguntar:

_ O efó é de quê?

E geralmente se responde:

_Tem efó-de-folha e efó de tudo.

Raul Lody

BrBdeB

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