A Sereia e o mito da talha com acaçás

Iemanjá, Inaê, Princesa do Aiocá, Dona Maria, Sereia, Sereia do Mar, Dona do Mar, Quianda, Quiximbi, são expressões que permanecem na cultural da Bahia como formas de viver uma identidade da qual se tem orgulho de ser africana.

Conhecer e experimentar costumes e tradições ligadas ao mar, ao oficio do pescador, à manutenção de histórias, aos contos, aos itãs – tradições orais –; às cerimônias; às festas públicas, como 2 de fevereiro, dia de festejar o mar, reativar as memórias ancestrais, e inventar novas tradições, dentro deste contexto de rica multiculturalidade.

Esses mitos, deusas, santas, orixás, inquices, são personagens que unem sexualidade à maternidade, e representam o ideal do ser feminino. Expressa também a voracidade do mito da sereia. Entendimento de um arquétipo que está além do limite da compreensão cristã.

 

Foto Jorge Sabino

 

As sereias estão nas mitologias dos povos pré-helênicos, na Mesopotâmia, na Grécia, em Roma, entre outras civilizações clássicas; ainda na Europa da Idade Média; e nas tradições, também milenares, de muitos povos e culturas do continente africano que trazem o hibridismo entre mulher e peixe, e mulher e pássaro.

Na Bahia, todo esse patrimônio de mitos faz parte das muitas representações relacionadas com o mar. E, em especial, no candomblé, há um encontro de matrizes africanas que fazem da celebração no mar um momento para resgatar as memórias ancestrais das sereias.

E no dia 2 de fevereiro, na festa pública da sereia em Salvador, que é também o dia de Nossa Senhora das Candeias, santa da igreja católica. Celebrar a sereia e a santa é viver um rico momento de interpretação de uma religiosidade plural que é a fé da Bahia. Esta data é, ainda, um marco na tradição ioruba, que relata por meio de um itã o dia em que Iemanjá oferece acaçás a Oxalá, orixá “fun-fun”

A tradição diz que durante a visita de Oxalá à diferentes cidades iorubas, cada cidade preparava um banquete para recebê-lo; porém numa das visitas, Exu se antecipa e come todo o banquete; mas Iemanjá guarda 16 acaçás de milho branco numa talha, e assim Oxalá teve o que comer.

Na festa do mar é preciso ter presentes, muitos presentes, que atendam aos desejos da mulher/mãe/sereia que gosta de flores, de comidas de milho, de obi, de perfumes, de joias, de tecidos, de música e dança que contam as histórias sobre o reino de Abeokuta; o nascimento dos orixás do ventre de Iemanjá; sobre as sereias sedutoras que estão nos Oceanos.

E assim, centenas de balaios e talhas de barro que estão repletos de presentes seguem para o mar, para o reino das águas, para Iemanjá, aquela que permite que do mar cheguem tantos alimentos como peixes, moluscos, algas, e outras fontes de vida tão necessárias para o homem.

 

Raul Lody

 

BrBdeB

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