Antônio, um santo do mundo português

Santo Antônio, São João e São Pedro, fazem a base do calendário junino, recebendo festas em todas as regiões, ganhando assim fortes características locais, traduzindo pela palavra, pelo canto, pela dança, pela comida, pela fé religiosa os contatos mais diretos e emocionados com o significado do sagrado.
Dos três santos louvados em junho, Antônio teve uma chegada fortalecida pela tradição de Portugal, pois o santo nasceu em Lisboa

As fogueiras, são comuns aos três santos que animam junho e em cada ato de acender a fogueira é uma repetição muito antiga que é a de trazer simbolicamente o fogo do sol para a terra e assim o homem exerce um poder ancestral de dominar e fazer ele mesmo o fogo para ampliar suas condições de dominar a natureza.

O fogo é um elemento marcante do mundo masculino e geralmente montar fogueira e acender fogueira é tarefa de homem, fortalecendo assim a memória e a tradição que é mantida perante as casas, sendo um ritual público.
Geralmente às 18:00 horas as fogueiras são acessas colocando no seu interior ramos verdes de pitangueira, bananeira ou outra folha que integre o imaginário regional. O fogo vai consumindo o verde de maneira a lembrar os rituais agrícolas, as conquistas do homem na ação civilizadora dos povos do mundo.

O fogo gerado é olhado, admirado e ritualmente apreciado pelo que traz de sentimento religioso, marcando a celebração, e que santo está sendo lembrado e que o voto de fé se cumpriu conforme diz a tradição.
É também costume pular a fogueira, sendo também um ato que rememora rituais da fertilidade. Tanto os homens e as mulheres podem pular a fogueira, sendo uma prova de coragem e de fé no santo.

A fogueira oferece o fogo para fazer comida, colocando-se, geralmente milho e batata-doce, acompanhada de outros pratos que integram a mesa e o gosto de junho. Tem sabor de doce. É um rico e variado cardápio de doces, muitos bolos, para serem consumidos pela madrugada entorno da fogueira, esse monumento efêmero que traduz os elos mais profundos entre o homem e o sagrado.

As comidas e bebidas de festejar fazem os momentos das sociabilidades e da comensalidade que ampliam os sentidos devocionais e ainda o pagamento de promessas.

E assim, as festas populares de junho são marcadas por uma ampla gastronomia a base de milho, coco, mandioca, açúcar, especiarias e frutas como o jenipapo entre tantas outras. Os bolos de milho, o bolo pé-de-moleque, as pamonhas de milho, a canjica, o manuê de mandioca e o manuê de milho, o mungunzá, o arroz doce, são servidos nas festas, juntamente com os licores.

Certamente, unido ao forte imaginário sobre Santo Antônio, um santo protetor, defensor, alia-se o ideal da fertilidade e aí a sua fama de ser um santo casamenteiro. Muitas são as tradições populares invocando Antônio, trazendo o santo para a intimidade, para os pedidos e devoções particulares.

Também nas casas, realizando trezenas, oferecendo licor de jenipapo, fazendo samba, como ocorre na Bahia; ou ainda lembrando do santo militar, o santo protetor Antônio enquanto tradição de Portugal e do Brasil por meio de autos, danças e comidas que preservam memórias e atualizam os elos entre o santo e o homem.

Viva Antônio!

 

Raul Lody

 

BrBdeB

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