Com “fome de mundo” Raul Lody, pensador da comida e da alimentação lança ‘Comer com os Olhos’, pelo canal da Cepe no YouTube no Brasil e em Portugal.
Seguem abaixo alguns pensamentos e ideias que nortearam a publicação do livro “Comer com os Olhos” de Raul Lody e Jorge Sabino, pela CEPE Editora, Recife, Pernambuco.
“Comer com os olhos” é uma expressão popular que enfatiza o valor e a comunicação pela imagem da comida.
A beleza e o reconhecimento da comida são importantes fatores para a alimentação.
Na verdade, comemos com o corpo inteiro. Primeiro, comemos com um sentimento ideológico, que está unido a cultura. Comemos também o som, o cheiro; e as experiências sensoriais da temperatura e da textura; e de outros fatores que culminam no paladar.
E o título do livro “Comer com os olhos” quer trazer imaginários diversos que nascem das experiências de comer e beber in loco, pelo Brasil e por centenas de lugares espalhados pelo mundo.
Assim, as fotografias de Jorge Sabino trazem um olhar sobre a etno alimentação em diferentes contextos sociais e culturais. O leitor, certamente terá o desejo de comer o livro. O meu trabalho na antropologia da alimentação é longo, e posso dizer que se iniciou em 1974, de maneira formal, com a publicação do meu primeiro artigo sobre o tema. Como as minhas pesquisas são de campo, o que legitimam as informações e os conteúdos vivenciais, isso possibilita um diferencial que notabiliza essa verdadeira experiência de comer o mundo. Todo esse acervo documental amplia-se a partir de 2005, com a adesão do fotógrafo Jorge Sabino, que passa a integrar as missões de pesquisas de campo pelo Brasil e pelo mundo.
“Comer com os olhos” é uma oportunidade de viver grandes roteiros visuais que mostram a diversidade dos sistemas alimentares do mundo. O livro enfatiza o sentimento onívoro do homem, aquele que come de tudo, e possibilita ter contanto com a biodiversidade e as técnicas culinárias que atestam as culturas dos povos. Assim, o livro é uma obra estimulante que mostra inúmeras possibilidades do ato cultural e humano de comer, também valoriza as memorias pessoais e familiares.
“Comer com os olhos” é um livro que também recupera os movimentos históricos, sociais e econômicos, que foram dinamizados a partir do século XV, com as Grandes Navegações de Portugal, o que possibilitou o encontro do Ocidente com o Oriente. Assim, pode-se dizer que pelo comércio de especiarias, e de outros ingredientes, viveu-se a primeira grande globalização, que interferiu na expansão do território, além das inúmeras receitas e novos hábitos alimentares. Por tudo isso, pode-se dizer que, o Brasil, pela sua constituição histórica, social e ecológica, integra um dos maiores sistemas alimentares do mundo.
A partir do ano de 2005, muitas viagens foram feitas pelo antropólogo Raul Lody e o fotografo Jorge Sabino juntos, o que possibilitou a organização de rotas de etno gastronomia e, em destaque, as rotas ibéricas, que até 2019 foram cumpridas 22 missões em campo, para visitar e experimentar nas diversas localidades de Portugal e Espanha os grandes fundamentos para a formação das cozinhas brasileiras. O mesmo ocorreu com ênfase nas rotas de pesquisa no Norte da África, para visitar povos e culturas da civilização Magrebe. Assim, esses exemplos se multiplicam e se atestam por meio do mapa mundi localizado no livro. A seleção de tão amplo e rico acervo visual, que monta em torno de 150 mil fotografias de campo, seguiu critérios de exemplaridade conforme o roteiro e os capítulos que formam o livro, o que resultou num conjunto com 350 fotografias.
O livro “Comer com os olhos” é uma obra que nasce da maturidade profissional, para este livro agregam-se a 37 livros publicados sobre comida , cultura e sociedade pelo viés da antropologia da alimentação. A publicação “Comer com os olhos”, sem dúvida, integra-se as celebrações dos meus 50 anos profissionais. Ainda, localizo a amplitude da minha produção de escritor e autor nas áreas da etno estética de matriz africana e da cultura material/arte popular brasileira, que reúne 45 livros publicados, desde 1974.
Cada comida é uma experiência sensorial e emocional. O doce para ser gostoso tem que ser bonito. O melhor acarajé deve começar pelo odor da massa de feijão fradinho sendo frita no azeite de dendê. Assim, não há uma repetição da emoção.
SERVIÇO
Cepe – Companhia Editora de Pernambuco