O sol é servido à mesa
“Escucha el Tonacáyotl, maiz.
Nuestro sustento, es para nosotros merecimiento completo
Quem fue el que dijo, el que nombró al maiz, carne nuestra
Huesos nuestros. Porque es nuestro sustento, nuetra vida, nuestro ser
Es andar, moverse, alegrarse, regocijarse. Porque es verdad
Tiene vida nuestro sustento
Muy deveras se doce que es el que manda, gobierna, hace conquistas…
Tan solo por nuestro sustento.
Tonacáyotl, el maiz, subsiste la toerra, vive el mundo, poblamos el mundo
El maiz. Tocacáyotl, es ló em verdad valioso de nuestro ser”.
(tradição Maia)
O milho é um dos mais notáveis e significativos elos de memória, de história e de sabedoria ancestral para os povos americanos. O milho traz os imaginários do sol, do ouro, do fogo, enquanto elementos fundamentais para manter os valores de pertencimento aos costumes milenares dos povos nativos das Américas. Assim pelas comidas de milho preservar identidades étnicas e culturais.
Amplos e diversos são os sistemas alimentares que nascem do Zea Mayz. Nativo e com muitas variedades, cores, formas, sabores e principalmente significados é o milho esse verdadeiro patrimônio para os povos americanos.
Sem dúvida o milho constitui as relações do homem com o sagrado milenar dos povos das Américas.
Deuses são o próprio milho. A espiga de milho, o milho maduro é uma base diversa e complexa na variedade de receitas para a alimentação do cotidiano e para o tempo das festas.
E assim tão profundo e integrado à vida americana o milho possibilita uma comunhão permanente que se dá ao se comer o próprio milho. Assim se come o sagrado e o homem torna-se também um ser sagrado. Homens e deuses guardiões do milho, da natureza, das tradições culinárias.
Um caso de destaque nessa verdadeira “civilização do Milho” nas Américas e no mundo, são as nossas mesas do ciclo junino, especialmente no Nordeste brasileiro. Vive-se um rico e variado cardápio a base de milho. É tempo de se louvar os santos de junho: Antônio, João e Pedro, envolvendo milhões de pessoas.
Esses santos populares que chegam com as tradições lusitanas são cultuados com música, dança, teatro e principalmente comida, muita comida de milho.
São antigas devoções que os povos têm sobre o fogo, o fogo das fogueiras que lembram o sol, o poder da fertilização do próprio fogo, num verdadeiro culto a vida. Os nossos cardápios trazem as “pamonhas de milho” permanências das receitas milenares dos “tamales” dos povos nativos, das Américas, ainda a canjica feita de milho tenro, unindo nessas receitas as especiarias do Oriente: cravo e canela, e também o coco, da Índia, tão presente na nossa mesa brasileira.
É o milho uma ampla base de tantos sistemas alimentares nas muitas receitas de comidas do dia a dia, nas festas, marcando fortemente culturas alimentares e identidades alimentares.
RAUL LODY