Com fome não há paz

Sem dúvida, são muitos os sentidos e os entendimentos que montam os significados da palavra paz; e isso mostra que há uma diversidade de contextos para formalizar a construção desse conceito que é diverso.

Paz é um comportamento, é uma ação, é uma experiência, é um momento; é uma intervenção ou ação que visa sanar um conflito; e tudo toca em todos os âmbitos das relações humanas. Também, é necessário entender que há diversas formas de manifestar e de identificar este conceito chamado de paz. Um conceito subjetivo e histórico. A paz para viver individualmente ou integrado ao coletivo.

Ainda, a paz está relacionada à conquista dos direitos humanos fundamentais, onde a comida ganha destaque, é o direito à alimentação, o direito de viver; de preservação da segurança alimentar e da soberania alimentar.

Porque a comida, e o direito a uma alimentação segura no cotidiano, deve compor os lugares sociais das pessoas.

Contudo, estes direitos estão sendo desrespeitados numa forma violenta de ausência de políticas de Estado. São argumentos políticos, são argumentos culturais, sociais e econômicos.

É o direito de ter soberania alimentar que determina as características culturais da alimentação. E assim, é a escolha e a intepretação dos ingredientes nas suas muitas formas de manifestar identidade através da comida; e, em especial, nas que fazem parte das festas populares e religiosas.

O confronto com a fome toca no entendimento de paz. A paz está também no equilíbrio e no controle de fatores ambientais, educacionais, alimentares, sanitários e culturais, que são constituintes e determinantes dentro das relações sociais; pois a paz é um fenômeno complexo e, por isso, deve-se considerá-la na sua amplitude.

Entretanto, a paz não é uma experiência permanente, historicamente ela é efêmera, contextual. A paz não é uma ocorrência da natureza, ela é uma construção episódica e simbólica da sociedade.

A paz atende aos ritmos mais distintos de uma ordem vigente, de um sistema de poder, dos princípios de uma tradição religiosa, moral e ética. A paz carrega valores transitórios que estão relacionados às forças políticas, às hierarquias, e às bases civilizatórias dos povos, o que incluí os seus hábitos alimentares.

A paz é um princípio, um pensamento, e um argumento. Paz na humanidade, paz na família, paz na alma. Ainda, paz para amenizar as desigualdades sociais. Paz para fomentar uma pedagogia que leve às mudanças sociais igualitárias.

A fome traz o sentido de confronto, enquanto um fenômeno de desnutrição e da ausência de nutrição, e a perda dos hábitos alimentares é também a perda do poder de manifestar alteridade.

Este sentimento de confronto causado pela fome, pela carência, mostra uma relação perversa entre a econômica e o ser humano, não produz paz. São muitos os fatores econômicos, tais como: comodities, políticas de abastecimento, estoques reguladores, inflação e desemprego; promovem essa falta de paz, dentro dessa anomia que vive o Brasil contemporâneo (2022).

Assim, estar com fome gera um estado de violência na sociedade. A insegurança alimentar, que no Brasil (2021) chega a quase metade da população do país, e isso se amplia para o estado de fome que atinge cerca de 30 milhões de brasileiros.

Fome gera conflito. Confronto não traz paz. Sem comida não há paz. Sem políticas púbicas inclusivas não há paz. Sem igualdade social no Brasil não haverá paz.

RAUL LODY

BrBdeB

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